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A colecção de Gravura Antiga da Faculdade de Belas-Artes da ULisboa (mais de 280 espécimes diferentes e perto de 400 provas) apresenta um cariz eclético no que respeita a autores, escolas e temas, e abrange um período cronológico que se estende desde finais do século XVII até à primeira metade do século XX. No entanto, a Academia de Belas-Artes, instituição originária e da qual a Faculdade é herdeira, possuía originalmente um acervo de cerca de 4800 gravuras que foram incorporadas em 1938, na sua maioria, no Museu Nacional de Arte Antiga. A origem desta colecção remonta portanto à Academia de Belas-Artes, transitando depois para a Escola Superior de Belas-Artes e finalmente para o Centro Nacional de Calcografia e Gravura, fundado em 1966 a instância do Professor Escultor Joaquim Correia, com o apoio do Instituto de Alta Cultura, e funcionando anexo à Escola Superior de Belas-Artes. Este Centro, que funcionava no piso superior do antigo Convento de S. Francisco viria, após 1974, a ser inviabilizado devido a falta de verbas por parte do Instituto de Alta Cultura e a colecção correu graves riscos de desaparecer. Deve-se ao Prof. Pintor Gil Teixeira Lopes a recuperação dos espécimes e sua salvaguarda. Em 2005, Maria Teresa Sabido promove investigação de Mestrado de Museologia e Museografia, orientada pela Prof.ª Doutora Luísa Arruda, na qual desenvolve estudo, inventariação e organização da colecção, que assim é definitivamente colocada no espaço do Gabinete de Desenhos e Gravuras da Faculdade, com criteriosa conservação preventiva dos espécimes. Relativamente aos artistas representados nesta colecção, na sua maioria foram discípulos ou mestres das mais marcantes instituições de ensino e prática da gravura em Portugal, mesmo anteriores à criação da Academia de Belas-Artes em 1836. Entre essas instituições pioneiras estão a primeira oficina tipográfica nacional, associada à Academia Real de História de Portuguesa, fundada por D. João V; a primeira Aula Oficial de Gravura, da Impressão Régia; a Aula de Gravura, integrada nas Aulas Régias; a escola-atelier da Casa Typographica, Chalcographica, Typoplástica e Litteraria do Arco do Cego; a Academia de Belas-Artes e, mais tarde, a Escola Superior de Belas-Artes. A função da gravura esteve sempre intimamente ligada ao ensino artístico, quer da própriaarte da gravura, através do estudo de modelos e técnicas pela observação dos espécimes; quer do desenho a partir de cópia (por ex.: a gravura “A morte de Marco António”, de Johann Willie, de 1778 e posteriormente o desenho com o mesmo título, pertencente também ao acervo da FBAUL, de Silveira Lopes, datado de 1852-53), quer ainda do desenvolvimento do gosto e aprendizagem da história da Arte. Integram esta colecção alguns dos grandes gravadores portugueses ou que trabalharam em Portugal desde os finais do século XVII até inícios do XX. Do século XVIII destacam-se, por exemplo, A Lactação de S. Bernardo de Francisco Vieira Lusitano (1699-1783) ou a Dança das Bacantes de Gregório Francisco de Assis Queiroz (1768-1845), a partir de um desenho de Vieira Portuense. No século XIX, assinalamos o Retrato de Bocage e o Retrato de G. C. Beresford, Conde de Trancoso de Francesco Bartolozzi (1728-1815) e o Retrato de D. Pedro de Noronha, Marquês de Angeja como colecionador de Gaspar Fróis Machado (1759-1796), não esquecendo os pintores Joaquim Manuel da Rocha e António Joaquim Padrão. Neste século, a colecção é absolutamente rica em obras de D. Fernando II, o Rei -Artista (1816-1885), como por exemplo Dois cavaleiros a lutar junto a um cavalo tombado e Concerto íntimo e coroação de Marieta Alboni, bem como inúmeras cenas do quotidiano lisboeta e rural. O século XIX foi ainda um período em que os professores da Escola deixaram a sua marca, contando assim a colecção com diversas obras de Tomás da Anunciação (sobretudo paisagens e temas animalistas), João Cristino da Silva, Silêncio Cristão de Barros e Victor Bastos. Já no século XX, a figura de Adriano de Sousa Lopes (1879-1944), director da Escola e também do Museu de Arte Contemporânea, legou-nos excepcionais cenas do Corpo Expedicionário Português na I Guerra Mundial, como o Comando da “Brigada do Minho” na Ferme du Bois e O episódio de 9 de Abril. Esta colecção, não só pelo valor intrínseco das obras, como também pelo seu contributo histórico, constitui um testemunho relevante, quer ao nível da reconstituição do percurso desta arte em Portugal, quer do estudo de artistas e do ensino artístico.

Luísa Arruda e Maria Teresa Sabido

coleção de gravura

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